O carnaval, apesar de ser considerado uma festa profana do prazer da carne, esteve sempre ligado ao sagrado desde a festa dos Reis até a Quarta-Feira de Cinzas. O carnaval é esperado com alegria, seja para a "festa da carne", seja para o descanso.
Depois do carnaval, as igrejas lotam. As cinzas recebidas lembram o pecado cometido e o valor do jejum, como meio de devolver a pureza, "perdida nas noites de prazer." O que significa tudo isto? Qual é o valor do corpo e da virgindade? Vale o prazer pelo prazer?
Na Igreja Católica, Maria é vista como símbolo de pureza virginal. Os Evangelhos canônicos (Mt, Mc, Lc e Jo) e os apócrifos (não-oficiais), com exceção de Filipe, defendem a virgindade de Maria, antes, durante e depois do parto. Quando nasceu Jesus, segundo os apócrifos, a virgindade de Maria foi testada e comprovada por Salomé. A vida pura e virginal de Maria no templo de Jerusalém é lembrada pela fé popular com a consagração de seus filhos. Quando Maria morre, virgens preparam seu corpo e seguem o cortejo. João, aquele que recebeu o encargo de cuidar de Maria, pôde levar a palma de virgindade de Maria, porque também se manteve virgem.
O exemplo de Maria nos ajuda a compreender o pensamento dos primeiros cristãos, ainda presente no meio de nós. A virgindade de Maria foi valorizada. A virgindade era fruto de um modo de pensar que desprezava o corpo. Os primeiros cristãos foram influenciados pelo pensamento dualista que pregava a separação entre alma e corpo, trevas e luz, vida e morte, Deus e o mundo.
Tudo o que pertencia ao mundo era desprezado, pois ele era uma armadilha dos poderes do mal. Deus, vivendo longe do mundo, não tinha como influenciar a vida espiritual das pessoas. O desafio do ser humano era tornar-se espiritual de verdade, abstendo-se da vida sexual ou de cair em desgraça total, nos prazeres do corpo. Pensava-se que a alma, tendo sua morada no céu, caiu no corpo. Um dia ela tinha que retornar ao céu. Na viagem de volta, se encontraria com o demônio, pronto para tomá-la. A única arma da alma para garantir a salvação seria a virgindade. Assim aconteceu com Maria. Ela foi assunta ao céu porque era virgem.
Se no passado o controle moral da Igreja sobre corpos provocou aberrações, hoje, as festas carnavalescas e outras atividades do gênero, supervalorizando o prazer do corpo, colocam o pêndulo do relógio no outro extremo. Em nossos dias, o carnaval é uma resposta ao "sagrado" desprezo do corpo orquestrado pelas Igrejas. Infelizmente, também de modo exagerado. Urge encontrar um meio termo. Nem oito, nem oitenta, mas uma vida pura, sem dualismo ou exageros. A pureza virginal vale. Vale também o prazer, feito de modo respeitoso e integrador.
Fr. Jacir de Freitas- O.F.M.
Do livro " As origens apócrifas do Cristianismo
Depois do carnaval, as igrejas lotam. As cinzas recebidas lembram o pecado cometido e o valor do jejum, como meio de devolver a pureza, "perdida nas noites de prazer." O que significa tudo isto? Qual é o valor do corpo e da virgindade? Vale o prazer pelo prazer?
Na Igreja Católica, Maria é vista como símbolo de pureza virginal. Os Evangelhos canônicos (Mt, Mc, Lc e Jo) e os apócrifos (não-oficiais), com exceção de Filipe, defendem a virgindade de Maria, antes, durante e depois do parto. Quando nasceu Jesus, segundo os apócrifos, a virgindade de Maria foi testada e comprovada por Salomé. A vida pura e virginal de Maria no templo de Jerusalém é lembrada pela fé popular com a consagração de seus filhos. Quando Maria morre, virgens preparam seu corpo e seguem o cortejo. João, aquele que recebeu o encargo de cuidar de Maria, pôde levar a palma de virgindade de Maria, porque também se manteve virgem.
O exemplo de Maria nos ajuda a compreender o pensamento dos primeiros cristãos, ainda presente no meio de nós. A virgindade de Maria foi valorizada. A virgindade era fruto de um modo de pensar que desprezava o corpo. Os primeiros cristãos foram influenciados pelo pensamento dualista que pregava a separação entre alma e corpo, trevas e luz, vida e morte, Deus e o mundo.
Tudo o que pertencia ao mundo era desprezado, pois ele era uma armadilha dos poderes do mal. Deus, vivendo longe do mundo, não tinha como influenciar a vida espiritual das pessoas. O desafio do ser humano era tornar-se espiritual de verdade, abstendo-se da vida sexual ou de cair em desgraça total, nos prazeres do corpo. Pensava-se que a alma, tendo sua morada no céu, caiu no corpo. Um dia ela tinha que retornar ao céu. Na viagem de volta, se encontraria com o demônio, pronto para tomá-la. A única arma da alma para garantir a salvação seria a virgindade. Assim aconteceu com Maria. Ela foi assunta ao céu porque era virgem.
Se no passado o controle moral da Igreja sobre corpos provocou aberrações, hoje, as festas carnavalescas e outras atividades do gênero, supervalorizando o prazer do corpo, colocam o pêndulo do relógio no outro extremo. Em nossos dias, o carnaval é uma resposta ao "sagrado" desprezo do corpo orquestrado pelas Igrejas. Infelizmente, também de modo exagerado. Urge encontrar um meio termo. Nem oito, nem oitenta, mas uma vida pura, sem dualismo ou exageros. A pureza virginal vale. Vale também o prazer, feito de modo respeitoso e integrador.
Fr. Jacir de Freitas- O.F.M.
Do livro " As origens apócrifas do Cristianismo
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